| 19 Dezembro 2014
Artigos - Movimento Revolucionário
"Ahora,
llevamos adelante, pese a las dificultades, la actualización de nuestro
modelo económico para construir un socialismo próspero e sostenible".Artigos - Movimento Revolucionário
Raúl Castro, em discurso ao povo cubano no dia 17 de dezembro de 2014.
Num dia de outubro do ano de 2012 - já contei isso antes por aqui - enquanto caminhava ao longo do Malecón habanero, eu ia observando o incessante bater das ondas contra os molhes que protegem a cidade. Retornara a Havana, passados 10 anos da minha visita anterior, para conhecer as mudanças que se dizia, então, estarem ocorrendo no país. Gastara os dias anteriores perguntando às pessoas sobre essas mudanças. "Câmbios? No hay cambios!", asseguravam-me aqueles com quem falava. De fato, tudo parecia apenas dez anos mais velho, dez anos mais deteriorado, exceto pela novidade dos telefones celulares. "Mas um dia o mar vencerá o muro", eu ia pensando enquanto contemplava a baía de Havana.
Lendo
os jornais de hoje, 18 de dezembro de 2014, me pergunto: será este o
momento? Será agora que Cuba tomará a decisão certa, o caminho da
democracia sonhado por tantos cubanos, exauridos de sua liberdade e
criatividade por um governo comunista, de feitio leninista? A frase com
que abro este comentário, feito em cima dos acontecimentos, deixa margem
para muitas dúvidas. O ditador Raúl Castro pretende instalar-se sobre
uma contradição - "socialismo próspero". Ora, isso não existe. O que
pode existir é uma ditadura com capitalismo, tipo chinesa.
Diante
disso, vê-se que Obama acaba de prestar um desserviço ao povo cubano.
Se era para fazer acordo, que o acordo previsse a abertura política. Ao
isolar das negociações o povo da ilha, Obama reproduz a conduta
brasileira, que socorre o ditador em suas necessidades materiais
ajustando o estribo para que ele possa continuar cavalgando a nação
cubana. Huber Matos, um dos principais comandantes da revolução, no
livro "Cómo llegó la noche",
relata uma conversa que teve com Fidel, indagando-o sobre quando iriam
cumprir a promessa de permitir aos trabalhadores a participação no
resultado das empresas. Na resposta, o Líder Máximo afirmou que isso
seria impossível porque quando o trabalhador adquire independência
econômica logo vai atrás da independência política.
Se
tal entendimento os manteve no poder durante 54 anos, não vejo razão
para que tenham mudado de opinião. A longa experiência certifica a
correção da tese. Ademais, o modelo político cubano, segundo a própria
definição de Fidel Castro, é marxista-leninista, ou seja, tem total
desapreço à democracia e às liberdades que normalmente a acompanham. Se a
questão política interna de Cuba não faz parte da pauta negociada entre
Raúl e Obama com as bênçãos de Sua Santidade o Papa Francisco, então
esqueceram o principal. Cuba não é um negócio da família Castro &
Castro Cia. Ltda, com a qual Obama faz acertos, mas uma nação insular
onde, há mais de meio século, 11 milhões de pessoas trabalham como
escravas do Estado. Um dia, contudo, o mar vencerá o muro.
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