| 02 Janeiro 2015
Media Watch - Outros
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A exemplo de qualquer país comunista, Cuba não permite que instituições externas monitorem seus dados.
O escritor Luiz Fernando Veríssimo, competente quando faz humor e engraçadíssimo quando escreve sério, furou o teto da falta de noção no texto publicado em 22 de dezembro, em Zero Hora. Ao longo da coluna, para justificar a terrível violência institucional do totalitarismo chinês e cubano, LFV foi argumentando com base em omeletes e ovos. Meios e fins. Quebrar ovos para fazer omeletes. Deixou de lado o totalitarismo soviético porque, pelo jeito, não serviu à tese. Mais valem dois argumentos na mão do que uma tese voando.
A
paixão ideológica tem razões que a razão desconhece. Os leitores sabem
distinguir um ovo de uma pessoa humana, não há necessidade de
contra-arrazoar. Vou ao que conheço mais, que é a publicidade comunista
em torno do IDH cubano. Atribuir confiabilidade a dados sociais
fornecidos por qualquer governo comunista é uma enorme ingenuidade. É o
mesmo que acreditar em Fidel Castro. Ou em Lula. Ou em Dilma. Dou um
exemplo que serve ao caso. Fidel, no dia 8 de janeiro de 1959, no
discurso que fez ao entrar em Havana, logo após a sua revolução (Che
Guevara chegara antes), falou assim às mães cubanas: "Hoy yo quiero
advertir al pueblo, y yo quiero advertir a las madres cubanas, que yo
haré siempre cuanto esté a nuestro alcance por resolver todos los
problemas sin derramar una gota de sangre. Yo quiero decirles a las madres cubanas que jamás, por culpa nuestra, aquí volverá a dispararse un solo tiro" (íntegra). As mães cubanas aplaudiram. E ele, ato contínuo, começou a quebrar ovos no paredón. Bem como conviria à omelete de LFV.
Mentira,
agitação e propaganda são a alma do sistema. A exemplo de qualquer país
comunista, Cuba não permite que instituições externas monitorem seus
dados. Por outro lado, o governo considera que, como fornece alguns
itens de alimentação a preço altamente subsidiado, e proporciona estudo e
atenção de saúde gratuitos à população, os ínfimos salários que paga
aos trabalhadores não são representativos do que eles realmente ganham.
Com isso, infla a variável renda agregando a ela os investimentos do
governo. Se todos os países fizerem a mesma coisa!... É o que se chama
IDH de granja, onde os frangos têm casa, comida e veterinário para
cuidar de sua saúde, mas não têm liberdade, nem propriedade, nem
dignidade (os estrangeiros têm direitos vedados aos próprios cubanos);
não podem decidir sobre o que ler. Não há onde nem como buscar a própria
felicidade.
Ah,
sim, pois é, tem a Educação. Já no início dos anos 50, os padrões
educacionais de Cuba se alinhavam entre os mais elevados do mundo. O que
o regime fez, a par, certamente, de uma ampliação do sistema, foi
transformar o ensino em "doutrinação para o comunismo", como todo regime
comunista faz com vistas à própria estabilidade. Essa é uma obrigação
constitucionalmente imposta ao Estado e às famílias. Ora, educar para o
comunismo é quase o mesmo que não educar absolutamente, porque resulta
em cerceamento da liberdade, junto com a qual, vão-se o interesse
próprio, a criatividade, a inovação, a iniciativa pessoal e a recompensa
do mérito.
É muito ovo quebrado para pouca omelete.
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