domingo, agosto 18, 2013
'FORA DO EIXO' DEIXOU RASTRO DE CALOTES EM CUIABÁ, AFIRMA JORNAL.
Pablo Capilé, chefe do Fora do Eixo |
O
pacote de notas multicoloridas, semelhantes às de jogos de tabuleiro,
enche uma gaveta no caixa do restaurante de José Ignácio Lima, no centro
de Cuiabá.
O que
os papéis representam, porém, está longe de ser brincadeira. "São R$ 21
mil, ou quase 2.000 refeições, que tento receber há três anos, sem
sucesso", diz Lima.
As
notas, de 1, 5, 10 e 50, são Cubo Cards, "moeda alternativa" lançada em
2003 pelo Espaço Cubo, grupo cultural mato-grossense que foi o embrião
do grupo Fora do Eixo, hoje sediado em São Paulo e com braços pelo país.
O grupo
ganhou visibilidade após a revelação de que banca as ações da Mídia
Ninja, que cobriu ao vivo, via web, a onda de protestos no país.
Os Cubo Cards eram usados para pagar artistas, produtores e donos de estúdios
"O
acordo era que, se aceitasse os Cards como pagamento, eu trocaria parte
em dinheiro e receberia parte em propaganda. Fiquei com este monte de
papel", diz Lima.
Trato
semelhante foi feito com a rede de papelarias de Zerrer Salim, outro
"colecionador" involuntário de Cubo Cards. Com R$ 22 mil a receber, ele
conta que fechou um acordo com o Fora do Eixo e aceitou um longo
parcelamento. "Não adiantou. Recebi apenas R$ 2.000 neste ano."
O
rastro de calotes inclui artistas, donos de estúdios musicais e ao menos
três hotéis. Um deles acionou na Justiça o líder do grupo, Pablo
Capilé, e obteve sentença favorável, ainda não executada.
"Hospedamos
60 pessoas por sete dias e elas simplesmente saíram, não vieram acertar
e, mesmo com decisão favorável da Justiça, não recebemos um centavo",
diz Faiana Prieto, filha da dona.
O caso
ocorreu em 2006, na realização do festival Calango, uma das vitrines do
grupo, então apoiado por Estado e Prefeitura de Cuiabá.
Financiado
desde 2008 pela Petrobras, o festival foi considerado o maior evento de
música alternativa do Centro-Oeste. Na última edição, em 2010, reuniu
40 bandas.
No ano
seguinte, foi cancelado e nunca mais aconteceu. A cantora Luciana
Bonfim, que se apresentou no evento, diz que calote era a "política
oficial". "Até empresas de banheiro químico, de extintores de incêndio e
pedreiros ficaram sem receber", diz.
Outro
hotel disse que ficou sem receber R$ 5.000 em diárias em 2006, mas que
desistiu de cobrar. Para a cineasta Caroline Araújo, esses casos "não
são novidade para os cuiabanos". "O Brasil está vendo o que Cuiabá já
sabia."
OUTRO LADO
A
coordenação do Fora do Eixo disse ter R$ 60 mil em dívidas em Cuiabá,
que o valor está em negociação e todos os credores serão pagos.
"Estamos
negociando com todos os fornecedores e parcelando as dívidas. E pode
ter certeza: uma parte significativa dos agentes culturais no Brasil
possui dívidas como essas", disse Lenissa Lenza, responsável pelo braço
financeiro, o banco Fora do Eixo.
Diferentemente
do que afirmaram os donos da papelaria e do restaurante, Lenza disse
que as dívidas do grupo foram parceladas e que os acordos estão em dia. Da Folha de S. Paulo deste domingo
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