segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Excelente ! MARCO ANTONIO VILLA

PERCA TEMPO - O BLOG DO MURILO: Um ano para ser esquecido - MARCO ANTONIO VILLA:

Domingo, Dezembro 25, 2011


Um ano para ser esquecido - MARCO ANTONIO VILLA

O ESTADÃO - 25/12/11 O governo Dilma Rousseff é absolutamente previsível. Não passa um mês sem uma crise no ministério. Dilma obteve um triste feito: é a administração que mais colecionou denúncias de corrupção no seu primeiro ano de gestão. Passou semanas e semanas escondendo os "malfeitos" dos seus ministros. Perdeu um tempo precioso tentado a todo custo sustentar no governo os acusados de corrupção. Nunca tomou a iniciativa de apurar um escândalo - e foram tantos. Muito menos de demitir imediatamente um ministro corrupto. Pelo contrário, defendeu o quanto pôde os acusados e só demitiu quando não era mais possível mantê-los nos cargos. A história - até o momento - não deve reservar à presidente Dilma um bom lugar. É um governo anódino, sem identidade própria, que sempre anuncia que vai, finalmente, iniciar, para logo esquecer a promessa. Não há registro de nenhuma realização administrativa de monta. Desde d. Pedro I, é possível afirmar, sem medo de errar, que formou um dos piores ministérios da história. O leitor teria coragem de discutir algum assunto de energia com o ministro Lobão? É um governo sem agenda. Administra o varejo. Vê o futuro do Brasil, no máximo, até o mês seguinte. Não consegue planejar nada, mesmo tendo um Ministério do Planejamento e uma Secretaria de Assuntos Estratégicos. Inexiste uma política industrial. Ignora que o agronegócio dá demostrações evidentes de que o modelo montado nos últimos 20 anos precisa ser remodelado. Proclama que a crise internacional não atingirá o Brasil. Em suma: é um governo sem ideias, irresponsável e que não pensa. Ou melhor, tem um só pensamento: manter-se, a qualquer custo, indefinidamente no poder. Até agora, o crescimento econômico, mesmo com taxas muito inferiores às nossas possibilidades, deu ao governo apoio popular. Contudo, esse ciclo está terminando. Basta ver os péssimos resultados do último trimestre. Na inexistência de um projeto para o País, a solução foi a adoção de medidas pontuais que só devem agravar, no futuro, os problemas econômicos. Em outras palavras: o governo (entenda-se, as presidências Lula-Dilma) não soube aproveitar os ventos favoráveis da economia internacional e realizar as reformas e os investimentos necessários para uma nova etapa de crescimento. Se a economia não vai bem, a política vai ainda pior. Excetuando o esforço solitário de alguns deputados e senadores - não mais que uma dúzia -, o governo age como se o Congresso fosse uma extensão do Palácio do Planalto. Aprova o que quer. Desde projetos de pouca relevância, até questões importantes, como a Desvinculação de Receitas da União (DRU). A maioria congressual age como no regime militar. A base governamental é uma versão moderna da Arena. Não é acidental que, hoje, a figura mais expressiva é o senador José Sarney, o mesmo que presidiu o partido do regime militar. Nenhuma discussão relevante prospera no Parlamento. As grandes questões nacionais, a crise econômica internacional, o papel do Brasil no mundo. Nada. Silêncio absoluto no plenário e nas comissões. A desmoralização do Congresso chegou ao ponto de não podermos sequer confiar nas atas das suas reuniões. Daqui a meio século, um historiador, ao consultar a documentação sobre a sessão do último dia 6, lá não encontrará a altercação entre os senadores José Sarney e Demóstenes Torres. Tudo porque Sarney determinou, sem consultar nenhum dos seus pares, que a expressão "torpe" fosse retirada dos anais. Ou seja, alterou a ata como mudou o seu próprio nome, sem nenhum pudor. Desta forma, naquela Casa, até as atas são falsas. Para demonstrar o alheamento do Congresso dos temas nacionais, basta recordar as recentes reportagens do Estadão sobre a paralisação das obras da transposição das águas do Rio São Francisco. O Nordeste tem 27 senadores e mais de uma centena de deputados federais. Nenhum deles, antes das reportagens, tinha denunciado o abandono e o desperdício de milhões de reais. Inclusive o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, que representa o Estado de Pernambuco. Guerra, presumo, deve estar preocupado com questões mais importantes. Quais? Falando em oposição, vale destacar o PSDB. Governou o Brasil por oito anos vencendo por duas vezes a eleição presidencial no primeiro turno. Nas últimas três eleições chegou ao segundo turno. Hoje governa importantes Estados. Porém, o partido inexiste. Inexiste como partido, no sentido moderno. O PSDB é um agrupamento, quase um ajuntamento. Não se sabe o que pensa sobre absolutamente nada. Um ou outro líder emite uma opinião crítica - mas não é secundado pelos companheiros. Bem, chamar de companheiros é um tremendo exagero. Mas, deixando de lado a pequena política, o que interessa é que o partido passou o ano inteiro sem ter uma oposição firme, clara, propositiva sobre os rumos do Brasil. E não pode ser dito que o governo Dilma tenha obtido tal êxito, que não deixou espaço para a ação oposicionista. Muito pelo contrário. A paralisia do PSDB é de tal ordem que o Conselho Político - que deveria pautar o partido no debate nacional - simplesmente sumiu. Ninguém sabe onde está. Fez uma reunião e ponto final. Morreu. Alguém reclamou? A grande realização da direção nacional foi organizar um seminário sobre economia num hotel cinco estrelas do Rio de Janeiro, algo bem popular, diga-se. E de um dia. Afinal, discutir as alternativas para o nosso país deve ser algo muito cansativo. Para o Brasil, 2011 é um ano para ser esquecido. Foi marcado pela irrelevância no debate dos grandes temas, pela desmoralização das instituições republicanas e por uma absoluta incapacidade governamental para gerir o presente, pensar e construir o futuro do País.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Tucanos poderiam ser hoje a ala esquerda do PT!

Tucanos poderiam ser hoje a ala esquerda do PT!

09/12/2011

às 22:48

Tucanos poderiam ser hoje a ala esquerda do PT!

Todos sabem o que penso sobre a passagem de FHC pela Presidência da República. Não retiro uma só palavra do que escrevi até hoje. Eu o considero mais importante para a história do Brasil do que Getúlio Vargas — pelos menos para os meus valores. Não vou repisar argumentos. De resto, a engenharia econômica do Plano Real, que esteve sob o seu comando, foi única no mundo e responde, em essência, pela relativa estabilidade do país num mundo em crise. Se temos alguns problemas sérios, e temos, deve-se ao que não se fez depois. Assim, viva FHC!, homem de notável inteligência. Mas também tenho discordâncias severas, algumas já expressas aqui mais de uma vez.

Hoje foi um dia um tanto infeliz para o PSDB, menos pelos episódios em si do que pelo futuro para o qual acenam. Em Minas, vemos o governador Antonio Anastasia e o senador Aécio Neves acenando explicitamente para Fernando Pimentel. No caso do governador, a justificativa toca as raias do absurdo. Além de “amigo”, diz, “Pimentel é mineiro”. Bem, ser mineiro não é, que se saiba, atestado de inocência. “Ah, olhem o Reinaldo, um serrista, falando…” Esse tipo de consideração, acho, já está desmoralizada.

O principal partido de oposição deveria ter claro que o PT, o maior partido do país, tem plenas condições de defender um dos seus, ainda que as duas legendas tenham se unido na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte para eleger Márcio Lacerda. Há uma diferença óbvia de comportamento entre esses tucanos e o conjunto dos petistas no trato com os adversários. Ah, sim: sou especialista em enfrentar “correntes na Internet”. Não adianta vir com aquela cascata contra paulistas que não dou a mínima. Agora a sabatina.

A Folha “sabatinou” hoje FHC, que está lançando o livro “A Soma e o Resto - Um Olhar sobre a Vida aos 80 Anos” (editora Civilização Brasileira). Não li ainda. Lerei e estou certo de que vou gostar de muita coisa. Mas, definitivamente, não gosto do que leio sobre a sua entrevista. O ex-presidente fez, sim, críticas à forma como o PT conduz o governo, atacou o aparelhamento, apontou o que não funciona etc. Nesse particular, repetiu a parte virtuosa de sua entrevista ao programa Roda Viva.

Ocorre que, e o próprio ex-presidente tocou nesse aspecto ( insuficientemente tratado até onde li, mas não posso assegurar porque não estava lá), o PT bateu a carteira da agenda social-democrata e, se querem saber, mesmo do que havia de mais “liberal” na atuação do PSDB. E o fez sem qualquer movimento propriamente de conversão ideológica. Para todos os efeitos — eis um escândalo, se me permitem, ideológico —, os petistas ainda se dizem socialistas etc. e tal. Não são, obviamente. Como tenho escrito aqui reiteradas vezes, do socialismo mesmo, eles só conservam a visão autoritária da política, quiçá totalitária.

Mensalão FHC gosta de pensar com largueza. Antes de ser político, é um intelectual, que faz reflexões ainda inacabadas em voz alta, erro que os “intelequituais” do petismo não cometem. Sempre atuam como… políticos! Ao comentar o episódio do mensalão, o ex-presidente afirmou que o ex-deputado Roberto Jefferson “teatralizou” a denúncia. Está, obviamente, se referindo a certos e inegáveis dons histriônicos de Jefferson, que, suponho, nem ele próprio negue. Ocorre que FHC é presidente de honra do PSDB. Eu corto as duas mãos se a frase não for incorporada à defesa dos réus do mensalão. “Teatralização” será entendida como “falsificação”, “exagero”, “mera representação”. E não foi um “deles” a dizê-lo, mas uma voz da oposição. Em uma palavra e um ponto: desastroso!

O tucano também afirmou o que já se sabia: recebeu o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, quando parecia inexorável que se caminhasse para o pedido de impeachment. Negou que tenha havido um acordo, mas deixou claro, sim, que o PSDB tirou o pé do acelerador. Insiste ainda hoje que o eventual impeachment de Lula teria cindido um país, teria sido um trauma político etc. Trata-se, temos de ser fiéis à história das idéias, do FHC de formação esquerdista a falar, não aquele que escolheu tirar o país do atraso econômico-institucional. A tese é ruim de doer. Em primeiro lugar, não dá para adivinhar o que seria. Em segundo lugar, ofensa à democracia foi a tentativa de comprar o Congresso e a compra efetiva de partidos com porteira fechada. Mais: ao sobreviver ao mensalão, o PT se colocou como um partido acima do bem e do mal. Os critérios morais passaram a ser ainda mais lassos.

FHC sugere que se fez ali uma escolha. Ora, não escapará a ninguém que essa escolha comporta uma boa dose de paternalismo. Em nome, então, da não-cisão, uma suposição, escolheu-se um caminho que ignorava as leis. Ruim! Lula sobreviveu, sim, ao mensalão, mas não exatamente para soldar uma fratura. Ao contrário: nascia ali, de forma decidida, a guerra do “nós” contra “eles”. E o próprio FHC era a besta-fera do passado. “Ora, se ele não se importa, Reinaldo, por que você vai se importar?” Ele sabe o que faz de si. Ocorre que foi transformado numa espécie de símbolo do não-petismo. O governo petista passou a usar a estrutura do estado para liquidar a divergência.

Confronto de valores Ao responder ontem a um subintelectual falastrão, lembrei um texto que texto que escrevi na última edição de VEJA do ano passado sobre aquela que considero ser a saída das oposições. Não é “a” resposta, claro! É só a “minha” resposta. Ou o Brasil reinventou a democracia ou está com algum problema. No mundo inteiro, existem partidos chamados “conservadores” que disputam o poder em igualdade de condições com os ditos “progressistas”. É esse equilíbrio que tem garantido as boas conquistas do regime democrático.

Não no Brasil. FHC falou na sabatina da Folha, na prática, ainda que com um volteio retórico aqui e ali, em favor da descriminação das drogas e do aborto, agenda que nem o PT assume claramente porque sabe que ela se choca com a opinião da maioria do povo brasileiro. Notem bem: se é isso o que FHC pensa como intelectual, que diga! Não serei eu a cobrar dele que afirme o contrário do que pensa. Uma coisa é certa: ele é uma das principais referências do PSDB, e a esmagadora maioria da parcela da população afinada com esse discurso vota no… PT!!!

No que respeita ao ordenamento propriamente econômico, não há diferenças entre PSDB e PT. Eu diria mesmo que, personalidade a personalidade, há pessoas no partido de Lula que estão muito, só para ficar em termos consagrados, “à direita” de alguns tucanos. No que diz respeito à agenda dos costumes, bem mais importante para a democracia e para a disputa eleitoral do que parece, um FHC — e ele não seria o único — se posiciona, para ficar na nomenclatura consagrada, à esquerda do próprio PT ou, quem sabe, do Apedeuta. Procurei: não há uma só declaração do Babalorixá que flerte com a descriminação do aborto, por exemplo, ainda que a política do partido caminhe nesse sentido. A própria Dilma, que fazia a defesa aberta dessa agenda, teve de mudar durante a campanha.

Nessa toada, esses que estão hoje na oposição não voltarão ao poder — a não ser que haja um desastre na economia, o que ninguém quer — enquanto insistirem em disputar o mesmo espaço do PT. A conversa de que “eles roubaram a nossa agenda” é inútil. É verdadeira, sim! A verdade na qual poucos acreditam costuma ser de uma danada ineficiência, não é? Vejam o caso da Cassandra, coitada!, que saiu da mitologia para ser difamada na metáfora. Sempre que alguém faz uma previsão meio catastrofista, dizem: “Esse é uma Cassandra”. Ocorre que a coitada sempre estava certa; sempre previa o que iria acontecer. Mas uma maldição de Apolo fazia com que não acreditassem nela… Era a chamada verdade inútil. Se os troianos a tivessem ouvido, não teriam levado aquele cavalo dos gregos para dentro da cidade. Mas levaram…

PSDB ocupa espaço da direita Tenho, sim, grande admiração por alguns tucanos, FHC entre eles. Mas nunca fui um deles, como muitos deles, aliás, fazem questão de também deixar claro. Na extinta revista Primeira Leitura, e o PSDB ainda estava no poder, escrevi um texto em que afirmava que o Plano Real, e só ele, tinha dado duas eleições presidenciais aos tucanos. A população votou, basicamente, no fim da inflação. Aloizio Mercadante e Maria da Conceição Tavares fizeram ao país o favor de convencer Lula e a cúpula petista de que o plano seria um desastre. Assim, queridos, vamos homenagear os dois com um pequeno aplauso: ao convencerem o Apedeuta a se colocar contra o sentimento da maioria, impediram o PT de chegar ao poder. Graças a Deus!

Quando o PT mudou o discurso e passou a atuar com a agenda econômica do adversário, mas investindo pesado no confronto de valores, o comando do PSDB se perdeu e não se encontrou até agora. Vivemos hoje uma situação estranhíssima. Se notarem, o PSDB ocupa o espaço que, nas democracias consolidadas, é ocupado por partidos conservadores, que o mundo chama, sem qualquer carga de preconceito, “de direita”. Ocorre que o PSDB não é… de direita! Resultado: ficam todos embolados no meio de campo, fazendo um discurso dito “progressista”, com a diferença de que os petistas, e nisso continuam esquerdistas, dominam os aparelhos dos ditos “movimentos sociais”.

Os conservadores acabam, com freqüência, fazendo “voto útil” nos tucanos, embora, na prática, estes acabem se confundindo com os petistas. E as coisas ficaram piores depois que os petistas decidiram se confundir com os tucanos. Nessa toada, o PSDB nem se torna uma alternativa de poder nem permite que surja uma alternativa de poder.

Lá vem pancada Aviso aos navegantes: os encapuzados da USP estão bravos e me xingam.; os amigos dos encapuzados estão bravos e me xingam; os petistas estão bravos e me xingam… E sei que agora virão os tucanos bravos, especialmente os de Minas. Não me importo. Tampouco me constranjo. Não escrevo para agradar tucanos, petistas ou sei lá quem. Escrevo o que acho que tem de escrito. Se acho que FHC, que tenho em altíssima conta, errou, então digo: “errou!”.

Às vezes, tenho a impressão de que os tucanos, se aceitos, poderiam se integrar ao PT. Comporiam hoje a sua ala… esquerda!

Por Reinaldo Azevedo