sábado, 17 de agosto de 2013

Mídia Sem Máscara - No que respeita à língua, do Brasil só vem merda

Bom...eu disse que não assumiria a nova ortografia podre. 

Mídia Sem Máscara - No que respeita à língua, do Brasil só vem merda

"Alguns podem pensar que ao escrever “penço” estou cometendo um erro de gramática. Não. O erro, isso mesmo, erro é ortográfico. Tanto já se comentou por aqui em acerto e erro, adequado e inadequado, que acredito que a confusão agora está completa."Marcia Meurier Sandri, Mestre em Língua Portuguesa UERI

Que me perdoem os amigos brasileiros, mas já não aguento mais! Puta que pariu! Em matéria de política da língua “portuguesa”, a grande diferença entre Portugal e o Brasil é que a de que a oposição ao Acordo Ortográfico, a existir no Brasil, não é organizada, ao passo que os defensores brasileiros do Acordo Ortográfico estão fortemente organizados – e a razão pela qual os putativos opositores brasileiros ao Acordo Ortográfico não estão organizados é a de que (apesar da aberração do Acordo Ortográfico) pensam que “o Brasil vai tirar vantagem”. Mas não vai.

Enquanto que os defensores portugueses do Acordo Ortográfico andam envergonhados, os defensores brasileiros do Acordo Ortográfico andam orgulhosos. E esta diferença faz toda a diferença.
Vamos definir alguns conceitos recorrendo a um dicionário, antes de prosseguir na desconstrução deste raciocínio tipicamente brasileiro.
Ortografia (do latim ortographia que por sua vez deriva do grego orthographia): parte da gramática que ensina a escrever correctamente as palavras de uma língua.
Gramática: (do latim grammatica que por sua vez deriva do grego grammatike): tratado dos factos da linguagem falada e escrita e das leis que a regulam.
Convenção: do latim conventio, que significa “pacto”: resultado de um acordo explícito ou tácito.
Já agora, a definição de “representação“: termo que designa qualquer imagem ou pensamento que se forma no psiquismo consciente, e que se supõe responder a um elemento exterior. Do ponto de vista da filosofia, também podemos definir “representação” como acto pelo qual o espírito torna presentes os seus objectos mediante a construção de imagens mentais.
A seguir, o problema é o de saber se uma língua é um mero sistema de sinais – conforme defendido por Ferdinand de Saussurre, o fundador da linguística – ou, em vez disso, é um sistema de símbolos. E aqui está o busílis da questão.
Émile Benveniste , para além de ter refutado uma concepção “behaviourista” da linguagem (que é o que está subjacente ao fundamento ideológico do Acordo Ortográfico) demonstrou que uma língua é um sistema de símbolos e não um mero sistema de sinais, quando ele verificou que as categorias lógicas de Aristóteles reproduzem as categorias gramaticais da língua grega antiga, sendo que a universalidade dessas categorias lógicas de Aristóteles devem ser adaptadas para se tornarem inteligíveis em outras línguas.
Um sinal não é a mesma coisa que um símbolo. O símbolo tem um conteúdo, em que é simbolizado o representado (ver definição acima de “representação”), enquanto que os sinais são escolhidos arbitrariamente.
O símbolo, para além do significado cultural que o sinal também pode ter, tem um significado espiritual (relativo à experiência humana subjectiva e que adquire uma experiência intersubjectiva ou colectiva) que o sinal não tem.
Um sinal só passa a ser um símbolo quando passa a ter um conteúdo com relação a um representado, o que lhe retira a arbitrariedade previamente existente. Um símbolo nunca se muda porque isso resultaria também na dissolução do seu significado; um sinal pode ser mudado mantendo-se o seu significado anterior.
A ortografia, para além de ser um conjunto de sinais [por exemplo, o alfabeto], é um sistema simbólico coeso que o Acordo Ortográfico pretende destruir.
Muita gente pensa que o significado da língua não se altera através da eliminação das características etimológicas da língua, como por exemplo, a supressão das consoantes mudas. Concebendo a língua como um sistema de sinais, pensam que mudando a constituição de uma palavra – ou seja, mudando um mero sinal – o seu significado mantém-se exactamente igual ao significado anterior à mudança.
«Duravão as Cortes e as instâncias dos povos querendo que S. A. se coroasse dizendo que o havião aclamar. Porem S. A. impidio isso, porque os povos estavão resulutos a isso, mais do que a pagar os tributos necessários. Sucedeo nas Cortes em S. Roque, aonde se junta o estado da nobreza, como em S. Domingos o eclesiástico, e o dos povos em S. Francisco, que sentando-se acaso o Duque de Cadaval em o banquinho do Secretário delas, que era o Marquês de Gouveia, que ainda se não começavão, o qual lugar é no topo da casa, junto de um bofete, donde principião os bancos pela casa abaxo em que se sentão os 30.»
- “Governo do Príncepe Dom Pedro regente de Portugal”, citado do livro “Portugal, Lisboa e a Corte de D. Pedro II e de D. João V – Memórias Históricas de Tristão da Cunha de Ataíde, 1º Conde de Povolide”, página 99, 1990, Chaves Ferreira – Publicações, S. A.
Mudando as palavras mudam-se os símbolos – e não os sinais -, porque uma língua, para além das palavras, tem uma morfologia e uma sintaxe que implicam previamente uma simbologia. E, para a esmagadora maioria dos brasileiros, este texto não é “português” mas antes é chinês: tornou-se ininteligível. Por isso é que a literatura brasileira é muito pobre se tivermos em consideração a população do Brasil. E o que parece é que o Brasil, não contente com a pobreza endógena da sua literatura, pretende exportar a sua indigência literária para todo o mundo de língua portuguesa.


Orlando Braga
 edita o blog Perspectivas.

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