| 02 Dezembro 2013
Artigos - Movimento Revolucionário
Artigos - Movimento Revolucionário
A maior prova de que o esquerdismo domina o espaço é que a direita vive num gueto.
Na Carta Maior desta semana, uma professora de ciências políticas da Universidade Federal de Pelotas, Luciana Ballestrin, adverte que enxergar alguma hegemonia comunista nas instituições superiores de ensino é “paranóia” e insinua que, ao contrário, o verdadeiro perigo que se esboça no horizonte nacional é o do fascismo.
A
prova que ela oferece desse deslumbrante diagnóstico é que três pessoas
reclamaram contra o comunismo universitário. Firmemente disposta a
dizer qualquer coisa contra essas três minguadas vozes, ela as acusa, ao
mesmo tempo, de provir de “um gueto” e de obter “grande repercussão na
mídia”.
É
notório que, entre os estudantes universitários brasileiros, quatro em
cada dez são analfabetos funcionais. Temo que entre os professores da
área de humanas essa proporção seja de nove para dez. A profa.
Ballestrin é mais um exemplo para a minha coleção. Ela fracassa tão
miseravelmente em compreender o significado das palavras que emprega,
que no seu caso o adjetivo “funcional” é quase um eufemismo.
Desde
logo, se os direitistas vivem num “gueto”, quem os colocou lá?
Enclausuraram-se por vontade própria ou foram expelidos da mídia, das
cátedras e de todos os ambientes de cultura superior pela política
avassaladora de “ocupação de espaços” que a esquerda aí pratica desde há
mais de meio século? Um gueto, por definição, não é um hotel onde a
minoria se hospede voluntariamente para desfrutar os prazeres de uma
vida sombria, fechada e opressiva, sem perspectivas de participação na
sociedade maior. É uma criação da maioria dominante, um instrumento de
exclusão usado para neutralizar ou eliminar as presenças inconvenientes.
A maior prova de que o esquerdismo domina o espaço é que a direita vive
num gueto. Ao acusá-la precisamente disso, essa porta-voz do
esquerdismo oficial só dá testemunho contra si própria.
Com
igual destreza ela maneja a segunda acusação: a de que as três vozes
obtiveram “grande repercussão na mídia”. Que grande repercussão? Alguma
delas foi manchete de um jornal, foi alardeada no horário nobre da
Globo, deu ocasião a uma série infindável de reportagens, congressos de
intelectuais e debates no Parlamento como acontece com qualquer denúncia
de “crimes da ditadura” ocorridos cinqüenta anos atrás? Nada disso.
Foram apenas noticiadas aqui e ali, discretamente, num tom de desprezo e
chacota. Mas, para a profa. Ballestrin, mesmo isso já é excessivo. Ela
nem percebe que, ao protestar que três direitistas saíram do gueto, ela
os está mandando de volta para lá.
Mas
onde ela capricha ao máximo em não entender nada é ao enxergar uma
“paranóia” em três denúncias isoladas, só notáveis pela raridade, e
nenhuma nos gritos de alarma contra a “ameaça fascista” que pululam aos
milhares, com estridência obscena, em publicações e salas de aula por
todo o país. Na própria Carta Maior o toque de alerta
antifascista ressoa diariamente. Qualquer observador isento nota a
desproporção entre a iminência objetiva desses dois perigos e a
intensidade do temor real ou fingido que despertam. Apontar o avanço
comunista é apenas registrar as vitórias que centenas de organizações
comunistas alardeiam e celebram nas assembléias do Foro de São Paulo
(prontas, decerto, a negá-las em público quando lhes convém). Mas e o
fascismo? Onde estão as organizações que o representam, os partidos que
buscam elevá-lo ao poder, as verbas bilionárias que o sustentam, a
militância adestrada para impô-lo a um povo inerme, os milhares de
livros que infectam com o vírus fascista as prateleiras das livrarias e
as bibliotecas das universidades? Nada disso existe. Nada, absolutamente
nada. Tanto não existe, que, para fingir que existe, é preciso até
mesmo chamar de fascistas as massas de agitadores comunistas pagos pelo
governo para espalhar o terror nas ruas e forçar a transição para o
socialismo explícito e descarado.
A
inversão das proporções é, decerto, um dos traços mais típicos e
constantes da mentalidade revolucionária, mas nem todos a ostentam com a
cândida desenvoltura dessa mulherzinha boba.
Saber
qual orientação ideológica predomina em determinado ambiente social não
deveria ser muito difícil para uma “cientista política”, especialmente
quando esse ambiente é o dela própria – o seu departamento
universitário. Ela poderia perguntar, por exemplo, quantos de seus
colegas votam na esquerda, quantos na direita. Ou poderia, com um pouco
mais de esforço, averiguar a linha ideológica majoritária dos autores
cuja leitura eles recomendam a seus alunos. Poderia até, se quisesse,
fazer inspeção semelhante em outros departamentos de ciências humanas
pelo Brasil a fora, para verificar se as várias correntes de pensamento
estão aí representadas equitativamente ou se uma delas predomina até o
ponto do monopolismo absoluto.
Tudo
isso, no entanto, para a profa. Ballestrin, é esforço excessivo, cruel e
desumano. Tudo o que se pode exigir dela é que raciocine pelo método
histérico da auto-impregnação auditiva. Eis como funciona. Nos seus anos
de estudante, você faz um esforço danado para macaquear o discurso dos
seus professores. Ouve, presta atenção e imita cada de linguagem, cada
cacoete, cada chavão. Quando por fim consegue falar como eles, você ouve
o que você próprio diz e, orgulhoso de tamanha realização, acredita que
é tudo verdade. Então está maduro para lecionar e para escrever artigos
na Carta Maior.
Publicado no Diário do Comércio.Mídia Sem Máscara - Bobinha
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